Nem todas as datas foram feitas para comemorar. Algumas carregam dores que ainda ecoam em silêncio, lembranças que nunca foram nomeadas e histórias que ficaram engasgadas por décadas. O dia 18 de maio é uma dessas datas.

Pouca gente sabe, mas ela marca o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Um marco criado não apenas para lembrar o que aconteceu com uma criança, mas para escutar — com seriedade — o que continua acontecendo com milhares de outras, todos os dias.

Mas este texto não é apenas sobre crianças. É também sobre os adultos que sobreviveram. Sobre quem cresceu com feridas profundas, muitas vezes sem saber exatamente onde começou a dor. Sobre quem sente que carrega algo dentro do corpo, da alma, das relações — e ainda não conseguiu entender por quê.

Mais do que trazer dados ou leis, este é um convite à escuta. Escutar o outro. Escutar o silêncio coletivo. E, principalmente, escutar a si mesmo. Porque há histórias que não foram ditas, mas continuam sendo contadas — através de sintomas, comportamentos, bloqueios e sofrimentos que pareciam não ter explicação.

Este é um espaço de memória, mas também de cuidado. Porque ainda é possível transformar uma história que parecia impossível de mudar.

O que aconteceu em 18 de maio de 1973

A data que hoje marca o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes nasceu de uma história real — e brutal — que, infelizmente, representa tantas outras que permanecem invisíveis.

Em 18 de maio de 1973, Araceli Cabrera Sánchez Crespo, uma menina de apenas oito anos, foi sequestrada em Vitória, no Espírito Santo. O que aconteceu com ela chocou o país. O crime envolvia violência sexual e resultou em sua morte. Apesar das evidências, o caso terminou sem condenações. Os acusados — jovens de famílias influentes — foram absolvidos por falta de provas. O tempo passou, mas a dor e a impunidade ficaram.

Foi só quase trinta anos depois, em 2000, que o Congresso Nacional aprovou a Lei nº 9.970, instituindo o dia 18 de maio como uma data oficial de conscientização e mobilização. O objetivo era claro: romper o silêncio, encorajar a denúncia e proteger as infâncias que ainda podem ser salvas.

Mas essa data não fala apenas do passado. Ela continua sendo um lembrete de tudo o que ainda precisa mudar — não só no sistema de justiça, mas na cultura que silencia vítimas e protege agressores. É uma convocação para que o medo e a vergonha não sejam maiores do que a verdade e o cuidado.

O que mudou — e o que ainda não mudou

Desde a criação do 18 de maio como data oficial, avanços importantes aconteceram: mais canais de denúncia foram criados, campanhas de conscientização ganharam força e o tema passou a ter, aos poucos, mais espaço nas escolas, nas redes sociais e na imprensa.

Mas a realidade ainda é devastadora.

No Brasil, uma criança é vítima de violência sexual a cada 10 minutos, segundo o Ministério dos Direitos Humanos. Estima-se que mais de 180 mil casos por ano ocorram no país, e esse número representa apenas os que chegam a ser denunciados. A maioria dos crimes acontece dentro de casa, cometidos por parentes ou pessoas próximas da família. O lugar que deveria ser o mais seguro, muitas vezes, é o mais perigoso.

E o que é ainda mais grave: a maior parte das vítimas não denuncia, não fala, não entende o que aconteceu — ou quando entende, já se passaram anos. O silêncio continua sendo o esconderijo do trauma. E o corpo, o primeiro lugar onde ele se manifesta.

Estudos internacionais mostram que adultos que sofreram abuso sexual na infância têm risco muito maior de desenvolver depressão, transtornos de ansiedade, doenças autoimunes, dores crônicas e até alterações hormonais. Isso sem falar nos impactos sobre a sexualidade, a confiança, os vínculos afetivos e a relação com o próprio corpo.

A criança cresce, mas as marcas ficam. E muitas vezes, elas continuam doendo — mesmo sem que a pessoa saiba de onde vem essa dor.

As vítimas que cresceram

Nem toda dor da infância vem acompanhada de lembrança.
Muitas vezes, vem apenas como uma sensação vaga de desconfiança, uma ansiedade que não passa, uma dificuldade persistente em se entregar, confiar ou sentir-se segura no próprio corpo.

Há adultos que foram vítimas de abuso, mas nunca conseguiram contar.
Outros apagaram partes da memória para conseguir sobreviver.
E há também quem só perceba os efeitos muitos anos depois — nos relacionamentos, na sexualidade, na espiritualidade, no medo constante de julgamento ou fracasso, na tentativa desesperada de controlar tudo para não ser machucado de novo.

Talvez você não tenha lembranças claras. Mas o seu corpo lembra.
A rigidez nos músculos.
A vergonha em situações íntimas.
O olhar que se esconde.
A voz que se cala quando precisa se posicionar.
A exaustão constante de quem está sempre em alerta.

Muitos aprendem a funcionar, a ser eficientes, a cuidar dos outros — como se nada tivesse acontecido. E de fato, nem sempre há uma lembrança consciente. Mas há um vazio. Um estranhamento interno. Uma parte que parece nunca conseguir relaxar por completo.

Essas pessoas cresceram, sim. Estudaram, trabalharam, construíram suas vidas.
Mas crescer não significa que a ferida foi embora.
A infância passou, mas o trauma ficou preso em lugares onde nem sempre se olha.

E talvez você esteja lendo esse texto justamente porque sente, lá no fundo, que existe uma dor antiga que ainda espera por escuta.

Quando a escuta vira cuidado

Sobreviver já é, por si só, um ato de força.
Mesmo que você não tenha tido escolha. Mesmo que tenha seguido em frente carregando um peso que ninguém via. Mesmo que tenha aprendido a calar, a se ajustar, a sorrir para não preocupar ninguém.

Mas existe uma diferença entre sobreviver... e viver de verdade.
E essa diferença começa quando a dor, finalmente, encontra um espaço seguro para ser escutada — não com pressa, não com fórmulas prontas, mas com respeito à história do corpo, ao tempo da alma e à verdade que você carrega por dentro, mesmo sem saber dizer.

O trauma deixa marcas profundas.
Mas ele não é uma sentença eterna.
Ele é uma ferida que, quando escutada com amor e cuidado, pode cicatrizar de outro jeito — não apagando o passado, mas libertando o presente.

Isso exige coragem, sim.
Mas não precisa ser solitário.
Há caminhos que podem ser construídos com presença, com acompanhamento sensível de um profissional qualificado, com espaço para você voltar a habitar seu próprio corpo — sem medo, sem vergonha, sem luta constante.

A escuta certa, no tempo certo, com o terapeuta certo… pode ser o começo de uma história que nunca te contaram:
a história de quem você pode ser, apesar de tudo.

Se esse texto falou com você — mesmo que em silêncio —, talvez você sinta que ainda não terminou.

Por isso, antes de sair… deixamos aqui uma forma de você continuar esse caminho: sendo ajudado (a) a lidar com essas questões tão sensíveis, em sessões individuais com um de nós dois, Marco ou Ení.
Você vai ser acolhido, compreendido e auxiliado a sair dessa dor imensa.

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